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Readaptação Escolar na Pandemia

De quem? Dos pais, das crianças, da escola. 

Ninguém retorna igual diante de tantos lutos coletivos. É como o soldado que retorna da guerra; uma parte dele fica. Perdemos: entes queridos, redes de apoio, renda financeira, entretenimento, contato social, abraços, calor humano…

Diante de desafios coletivos, precisamos de saídas coletivas. Estar entre os iguais é uma grande saída não apenas para os adultos, mas principalmente para as crianças. Todas as teorias do desenvolvimento infantil concordam que depois da família, não há nada melhor para uma criança do que outras crianças. 

Sobrou para a escola, que além de assumir os protocolos de saúde, têm mais um grande desafio. Elas precisam dar mais importância do que antes à socialização, pelo menos por um tempo. A aprendizagem fica limitada se as crianças não se sentirem seguras e organizadas emocionalmente.

Sabemos que as crianças têm uma grande capacidade de adaptação, mas especialmente agora não podemos esperar isso delas. Isso porque as crianças são como esponjas emocionais de toda a família e vivemos o tipo de estresse mais elevado, classificado como tóxico: intenso, frequente, prolongado e sem apoio. Todos levaremos algum tempo para nos re-equilibrar emocionalmente. 

Então precisamos, mais do que nunca, fazer esse retorno sem pressa, sem pressão e compreendendo que cada adaptação será única.

Se “a criança não estiver se adaptando”, não coloquemos mais essa responsabilidade na conta da criança, analisemos o contexto. 

Se uma escola não encarar esse momento como uma adaptação atípica, arrancando a criança do colo e dizendo que é normal, reivindique mais acolhimento ou procure uma escola mais acolhedora. São os pais que devem entregar a criança e não a escola tomá-la. 

Por outro lado, às vezes os pais não têm o tempo que a criança precisa para se sentir segura. No primeiro momento que ela se distrai, alguns pais aproveitam para sair e sem se despedir. Então quando as crianças se dão conta, elas choram muito. A escola deve chamar esses pais de volta, sem titubeio. 

Quanto mais pressão a criança sentir, mais tempo ela vai precisar. Em algumas adaptações pode parecer que a criança não está evoluindo e só fica no colo. No entanto, o mundo já é um convite sedutor de descobertas e basta ela ficar no colo dos pais vendo os colegas que o processo de adaptação será natural e leve. 

Precisamos reconstruir a adaptação escolar, pois ela é como um segundo corte de cordão umbilical (agora emocional) e representa como a criança vai se adaptar no mundo. 

Não podemos esquecer que estamos retornando “da guerra” e que um pedaço nosso ficou. Que seja a nossa insensibilidade adulta.

Assim aprenderemos, finalmente, que a adaptação não é apenas da criança, mas também de toda a família e escola. 

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O que fazer quando seu filho é exposto a um filme que tem abuso sexual infantil?

A polêmica do filme “Como se tornar o pior aluno da escola” (indo além de um posicionamento político), provoca duas perguntas aos pais:

1- Como lidar com as telas? 

2- O que fazer quando os filhos já acessaram um conteúdo sexual?

Com medo de sermos autoritários, estamos confusos do que nossos filhos podem escolher e do que nós devemos escolher por eles. Eles podem escolher dentro do que nós escolhemos por eles. Por exemplo, você compra a comida e determina as opções numa refeição, ele escolhe dentro das suas opções. 

O mesmo deve ser feito com tudo e, principalmente, com as telas. Elas podem ser a forma de nossos filhos aprenderem o mundo, livremente e sem filtros. O que as crianças e adolescentes veem e escutam ficam como aprendizagem, assim como as experiências. Você deixaria seu filho sozinho na cidade? Então não deixe diante das telas. Até eles terem autonomia para lidar com os efeitos psicológicos do que assistem, eles precisam ser mediados. 

Sendo assim, todas as telas devem ser supervisionadas pelos pais. Uma dica prática é utilizar diversos aplicativos que fazem o controle do que os filhos acessam, de quanto tempo e de todo o histórico. Hoje já há diversos aplicativos de controle parental, tanto gratuitos quanto pagos. 

E quando eles acessam um conteúdo de abuso sexual, pedofilia ou mesmo adulto, o que fazer?

Reprimir? Repreender a criança ou adolescente que seja flagrado assistindo a um conteúdo adulto não é o caminho. Gera tensão e curiosidade. Seja firme, colocando o limite, mas sem peso. Imagine que está colocando um limite como qualquer outro. Além do limite, seja um suporte. 

Questione o que a criança percebeu daquela cena, se gerou algum impacto. Então, a partir das respostas dela, oriente. Não diga que ninguém pode pegar nas partes íntimas dela, isso não é verdade.

Use o que foi visto para explicar que é abuso, as crianças não sabem. Esclareça quem pode pegar em suas partes íntimas; quando, quais os momentos que podem pegar (pediatra, banho, limpeza); e, por fim, como, por exemplo, um toque rápido só para lavar e que jamais pode ficar em segredo. 

Não ignore. Além de repreender, tratar como tabu foi mais um erro que as gerações passadas cometeram, não precisamos repeti-los! 

Uma a cada 3 crianças no Brasil é abusada sexualmente, sendo que 72% dos casos ocorrem em contextos familiares. Hoje diversas pesquisas apontam que tratar a educação sexual na infância como tabu é o principal fator que dá espaço aos abusadores. 

Assuma sua autoridade de guiar seu filho sem medo. Ele precisa de você. Você pode ser firme, e ao mesmo tempo, ser um suporte para ajudar ele a desenvolver a sexualidade de forma sadia. 

Orientar e empoderar são as melhores formas de prevenir a violência sexual infantil que, infelizmente, existe no mundo.

Caso presencie algo suspeito, denuncie através dos canais de denúncia: disque 100, o app Direitos Humanos, o site da ONDH e da Safernet.

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Melancia na Escola: Punições x Consequências

Na semana passada, o instagram de Bela Gil viralizou uma nota de suspensão de uma escola, do Interior de São Paulo, para um aluno. Ele levou uma melancia para o ambiente escolar e foi suspenso por compartilhar com os colegas “gerando tumulto e desordem, transgredindo o regimento escolar”. 

Antes de postar, a própria Bela Gil entrou em contato com a escola que preferiu não se manifestar no momento. No entanto, depois de receber muitas críticas sobre punir um comportamento de compartilhar melancia com uma suspensão, a escola deu explicações à Imprensa dizendo: 

“De acordo com a escola, além de provocar tumulto, o jovem descartou parte da melancia no vaso sanitário, o que gerou entupimento e prejuízos financeiros. O colégio reforça que, caso o intuito dele fosse partilhar a fruta, teria sido ótimo, mas reforça que não foi o que ocorreu”. Depois o menino escreveu um pedido de desculpas à escola em suas redes. 

O que essa viralização nos ensina? 

O que mais podemos aprender não é sobre o compartilhar, mas sobre a punição, prática ainda adotada em 99% dos lares e escolas brasileiras. As críticas à escola são uma projeção às punições adotadas em casa que, muitas vezes, extrapolam para a violência física. 

Quando a palavra perde a força e se esgota é necessário sim partir para uma ação, mas ela precisa ser educativa.. 

Qual a aprendizagem que essa medida provocou nesse aluno? Apenas que ele não deve desobedecer a ordem imposta pelos adultos. Ele não aprendeu que pode compartilhar sem prejudicar normas legítimas, como o cuidado com os banheiros coletivos. 

Há outra forma da criança aprender as consequências do que ela fez, para que ela comece a refletir sobre seu impacto no mundo. Consequências são uma reparação que tem uma relação direta com o que ela fez, como por exemplo: sujou, limpou, quebrou, conserta; desrespeitou, perde por um tempo aquele laço social. 

Em relação ao entupimento dos vasos, a reparação poderia ser acordada com a família para o aluno limpar os banheiros (com suporte). Porém quantas famílias estariam dispostas a apoiar essa consequência proposta pela escola? 

Sobre a partilha, a escola poderia construir o processo de reparação junto com ele e criar regras para ele partilhar o alimento como num certo local e período. Contudo, isso levaria tempo e as escolas ainda se sentem muito pressionadas pelo currículo. 

A repercussão da melancia nos lembra que ainda temos muito a caminhar para abandonar a punição, mas que, por outro lado, nossa vigilância sobre a infância está maior.

As consequências trazem a autorregulação e as punições nos tornam dependentes de regulações externas. Quando conseguirmos substituir as punições por consequências, teremos uma sociedade mais ética e harmoniosa. 

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